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Logo TK85    

No início dos anos 1980, após o sucesso de vendas do microcomputador "científico" TK82, a empresa brasileira Microdigital Eletrônica LTDA lançou o computador que seria seu sucesso de vendas. O TK-85 Personal Computer, anunciado no final de 1982, começou a ser comercializado em Março de 1983, teoricamente em duas versões: 16kB de memória e 48kB de memória. A disponibilidade das duas versões se tornou, de fato, quase teórica, pois a diferença de preço entre elas tornou quase virtual a existência do TK85 de 48kB: o comprador que quisesse 48kB de memória em seu TK85 teria que dispender mais de 50% do valor do aparelho com relação à versão de 16kB, por isso que encontrar TK85 original a 48kB está mais para lenda, enquanto que encontrar TK85 de 16kB é muito comum.

Utilizando o microprocessador Z80 de 8 bits, o TK85 é, de fato, um clone do Sinclair ZX81, característica comum dos computadores até meados dos anos 1990 devido às leis brasileiras de reserva de mercado. Porém, diferentemente dos outros possíveis clones, o TK85 foi o primeiro do ZX81, além de ter sido embutido em um gabinete muito semelhante ao gabinete do novo e mais moderno Sinclair ZX Spectrum, novidade mundial que já tinha ganho notoriedade no Brasil por meio das revistas especializadas.

Fabio Kiehl    
Eng. Flávio Kiehl
foto de família
   

O TK85 de Flávio Kiehl

O Museu 8 bits tem algumas unidades do TK85. A primeira unidade recebida pelo Museu tem uma história para contar: o TK85 do Engenheiro Flávio de Castro Kiehl.

O Engenheiro Kiehl nasceu em 1952 na cidade de Piracicaba/SP. Assim, no ano de lançamento do TK85, Kiehl tinha pouco mais de 30 anos. Entusiasta de informática, adquiriu seu pequeno TK85 de 16kB durante os anos de ouro da Microdigital. Posteriormente, adquiriu outros computadores muito mais avançados e recheados de recursos, porém jamais se desfez de seu antigo companheiro TK85. O pequeno TK85, obviamente de tecnologia já não tão útil anos depois, foi guardado com cuidado na casa de seus pais.

O Engenheiro Flávio Kiehl é um dos responsáveis pela tecnologia e informatização da Soletrol, uma das empresas de maior importância no desenvolvimento de tecnologia em energia solar no país. Um dos auditórios da Soletrol tem o nome de Engenheiro Flávio de Castro Kiehl em homenagem ao proprietário original deste TK85.

Infelizmente, Flávio Kiehl nos deixou em 9 de julho de 1994 em sua cidade natal, Piracicaba, vítima de um acidente com o pequeno avião que pilotava.

O pequeno TK85 foi encontrado por seus irmãos durante o desmonte da casa de seus pais, e chegou ao Museu 8 Bits pelas mãos de um destes irmãos, Marcos Kiehl.

Devido aos anos de guardado, o TK85 de Flávio Kiehl não estava funcionando ao chegar no Museu. Mas sua restauração foi possível: refeito o teclado, trocados os componentes eletrônicos que envelheceram, memória expandida para 48kB, instalado chip de som, modernizados a saída de vídeo e o sistema de alimentação elétrica, hoje o TK85 de Kiehl está funcionando plenamente no Museu 8 Bits, em homenagem à memória de Flávio Kiehl e a todos os que contribuiram com a tecnologia neste nosso maravilhoso país!

*A história do TK85 de Flávio Kiehl foi publicada sob autorização de Marcos Kiehl em agosto de 2022.

TK85 Flavio Kiehl

TK85 Personal Computer
Unidade de Flávio Kiehl

Características técnicas

  • Processador: Zilog Z-80A
  • Velocidade de clock: 3,25 Mhz
  • Memória ROM: 10 kB
  • Memória RAM: 48 kB
  • Teclado: microswitch/borracha, 40 teclas
  • Display: externo (A/V)
  • Resolução texto: 32 X 24 caracteres
  • Resolução gráfica: 64 x 48 (1/4 de caracter)
  • Expansão: conector EDGE ZX81
  • Conectores: P4 9V CC
                       DIN-6-07M para Joystick
                       2x P2 mono para cassete
                       RCA AV para TV tubo/LCD
  • Armazenamento externo: fita K7
  • Dimensões: 23,5 × 14,3 x 4cm
    Peso: 0,6 kg

 

TK85 preco    
Anúncio da Microdigital no jornal "A tribuna", de Santos/SP, 
no dia 20 de dezembro de 1983.
Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0350a1983.htm
   

Ainda que possa ser considerado um sucesso de vendas, como todo computador da época o TK85 já demonstrava que tecnologia tinha preço. A versão de 16kB custava Cr$279.850,00 (duzentos e setenta e nove mil, oitocentos e cinqüenta crizeiros), equivalente a $1800,00 (mil e oitocentos dólares). No câmbio de hoje, a cerca de R$5,10 o dólar, o brasileiro que quisesse ter uma belezinha dessas dispenderia pouco mais de 9 mil reais. A versão de 48kB tinha um custo muito maior: Cr$429.850,00 (quatrocentos e vinte e nove mil, oitocentos e cinqüenta cruzeiros), o equivalente a poico mais de 2.770 dolares, ou mais de 14 mil reais no câmbio de hoje. Considerando-se o preço dos atuais representantes da tecnologia de informática, os celulares de ponta custam até mais do que o TK85 custava na época. Então, apesar de ter um preço alto, a equivalência até que se mantém, os jovens dos anos 1980 gastavam o mesmo que os jovens dos anos 2020 em tecnologia, precisando juntar alguns meses de mesada ou do salário para comprarem seu sonho de informática.

Com a informática engatinhando no Brasil, a Microdigital fez uma boa campanha de marketing do TK85 na época, oferecendo um equipamento que poderia ser tanto uma moderna calculadora programável como um videogame, podendo ainda ser utilizado profissionalmente e em educação. Claro que não existiam, naquela época, editores de texto altamente funcionais, poderosas planilhas de cálculos financeiros e nem mesmo elaborados bancos de dados. Mesmo assim, no contexto da época, o TK85 tinha utilidade, ainda que limitada, das necessidades pessoais de estudantes e profissionais de informática, além de, obviamente, representar o entretenimento eletrônico para a época.

A Microdigital tem muito mérito no desenvolvimento tecnológico brasileiro nos anos 1980. Ainda que considerado um clone do ZX81, o TK85 jamais pode ser considerado uma cópia: o Reino Unido dos anos 1980 já tinha capacidade industrial de fabricar circuitos integrados sob demanda para empresas até mesmo de pequeno porte, e a Sinclair Research, fabricante do ZX81, foi amplamente beneficiada desta capacidade. O ZX81 original possuía um componente eletrônico integrado sob medida, não padrão, que possibilitava a miniatuirização necessária de acondicionamento do computador. Aqui no Brasil ainda não havia a capacidade de fabricar estes componentes sob demanda de pequenas e médias empresas, o alto custo por unidade tornaria o preço do componente proibitivo. Então os engenheiros da Microdigital, de forma inteligente, simplesmente refizeram a engenharia do ZX81 para funcionar com componentes eletrônicos comuns, disponíveis no mercado, e assim surgiu o TK85.

A reengenharia da Microdigital incluiu no TK85 até mesmo um recurso inexistente, possível no ZX81 somente com uso de expansão: o TK85 tem disponível, na sua placa mãe, espaço para incluir um chip gerador de som da Yamaha, de código AY-3-8912. Embora não tenha sido colocado originalmente nas unidades vendidas pela Microdigital, obviamente devido ao altíssimo preço que o computador acabaria por custar, hoje em dia é possível adquiri as peças, instalá-las na placa mãe e obter-se o funcionamento perfeito de 3 canais, de som digital, feito este que não existia originalmente nem mesmo no TK90X, modelo que substituiu o TK85 alguns anos depois. Os entusiastas do TK85 até já realizaram modificações que permitem que o som gerado pelo pequeno TK85 tenha saída estéreo.

Alguns meses depois do lançamento do TK85 no Brasil, a Timex Sinclair, subsidiária original da Sinclair nos EUA, lançou o TS-1500, que foi, basicamente, um TK85 norte americano. Seria a empresa original clonando a empresa clone?