
O ZX Spectrum Next é a mais sofisticada reinterpretação do computador que marcou a história britânica da microinformática nos anos 1980. Concebido com base no modelo original de 1982, o Next utiliza um FPGA moderno (Artix-7) para reconstruir com precisão o funcionamento da ULA e do processador Z80, combinando compatibilidade com software legado e suporte a novos desenvolvimentos.
Em sua terceira e última campanha de financiamento coletivo, iniciada em 19 de julho de 2025, via Kickstarter, o projeto atingiu 100% da meta em menos de sete minutos. A meta inicial de £250.000 foi ultrapassada por um público majoritariamente europeu. No entanto, para o Brasil, a realidade é outra.
O que há de novo na Issue 3
- FPGA aprimorado: substituição do chip XC7A15T por um XC7A35T, com mais LUTs e blocos DSP, permitindo múltiplos cores simultâneos;
- Cores licenciados: inclusão oficial dos sistemas Commodore 64 e Sinclair QL diretamente no firmware;
- Recursos físicos: saída HDMI atualizada, VGA, dois slots SD, compatibilidade com disquetes 3", expansão Pi Zero 2W e gabinete translúcido opcional;
- Compatibilidade total: com todos os modelos Spectrum originais, inclusive timings específicos de vídeo e som.
Quanto custa importar um ZX Spectrum Next para o Brasil?
Ao contrário dos residentes no Reino Unido e União Europeia, o brasileiro interessado em adquirir a máquina enfrentará uma equação tributária complexa e onerosa. Segue uma estimativa de custos com base no modelo básico:
Item | Valor estimado | Observações |
---|---|---|
Computador base (Kickstarter) | £325 (R$ 2.260) | Modelo sem expansão Pi Zero |
Frete internacional | £55 (R$ 385) | Frete sem rastreio total |
Impostos de importação | Até R$ 2.200 | II, ICMS, IPI e taxa dos Correios |
Total estimado | R$ 4.800 – R$ 5.000 | Varia conforme câmbio e local de entrega |
Esses valores refletem não apenas a carga tributária, mas a ausência de política pública voltada à democratização da tecnologia como bem cultural. Conforme apontado em artigo anterior (“Impostos abusivos na tecnologia: uma nova reserva de mercado”), o Brasil consolida, na prática, uma reserva de consumo forçada, onde apenas elites podem acessar produtos de nicho histórico-tecnológico.
Como adquirir um ZX Spectrum Next estando no Brasil?
O processo exige atenção e familiaridade com serviços internacionais:
- Cadastro no Kickstarter: é necessário cartão de crédito internacional emitido por banco brasileiro com habilitação para compras em moeda estrangeira. Bancos digitais são geralmente aceitos.
- Endereço de entrega: o projeto aceita envio para o Brasil diretamente. Opcionalmente, pode-se usar serviços de redirecionamento como Forward2Me (UK) para consolidar remessas.
- Conversão cambial: será aplicada a cotação comercial + IOF (normalmente 5,38%). O valor em libras será convertido em reais com acréscimo automático no fechamento da campanha.
- Tributação ao chegar ao Brasil: prepare-se para pagar os tributos via boleto emitido pelos Correios. O despacho só ocorre após o pagamento integral das taxas e do frete interno.
- Prazos de espera: estimados em até 6 meses para entrega após o encerramento da campanha (estimado: Q1 de 2026).
Por que o Next é importante?
- Patrimônio técnico-cultural: ao emular com precisão circuitos e timings originais do Spectrum, o Next preserva a essência da microinformática dos anos 1980.
- Educação e engenharia reversa: programação em Assembly Z80, mapeamento de memória, manipulação direta de registradores de vídeo e som.
- Plataforma viva: há mais de 200 novos títulos desenvolvidos nativamente para o Next, além de IDEs modernas como o NextBuild e suporte via GitHub.
Alternativas nacionais viáveis
- Placas FPGA nacionais: como o projeto TKNext, ainda em desenvolvimento, ou adaptações com MiSTer + ZEsarUX.
- Emuladores de alto nível: como Fuse e ZEsarUX, que podem reproduzir grande parte da experiência original, embora sem o realismo elétrico dos circuitos.
- Distribuições educativas: como RetroPie com front-ends configuráveis que permitem boot direto em ambiente Spectrum Next (via ZEsarUX).
O ZX Spectrum Next, em sua terceira iteração, representa não apenas o ápice da engenharia retrocompatível, mas também um marco cultural em um mundo que ainda valoriza o domínio técnico e a criação independente. No entanto, para o público brasileiro, esse futuro do passado continua distante, retido por entraves cambiais, tributários e políticos.
Importar um Next é possível. Mas exige consciência, planejamento e, sobretudo, disposição para enfrentar um sistema que transforma o acesso à tecnologia em um privilégio. Cabe ao leitor avaliar se o investimento se justifica, assim como cabe a nós continuar registrando, com precisão e respeito, o impacto desses marcos históricos, mesmo quando nos são negados.
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