A Era de Ouro da eletrônica educativa no Brasil
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Na década de 1980, a reserva de mercado para eletrônicos no Brasil estimulou o desenvolvimento local e o consumo de material educativo. As bancas de jornal traziam revistas especializadas, como Divirta-se com a Eletrônica, que, sob a batuta de Bartolo Fitipaldi, tornou-se uma referência. Fitipaldi, um editor apaixonado por eletrônica e ciência, entendia que esse conteúdo poderia transformar o aprendizado em algo acessível e cativante, especialmente para jovens.
Nesse contexto, a parceria com o professor Beda Marques foi fundamental. Marques, um renomado professor de eletrônica e autor de diversos projetos, tinha uma didática única e a capacidade de simplificar temas complexos. Ele sabia, como poucos, traduzir teorias técnicas em projetos práticos que qualquer um poderia construir com componentes básicos. Projetos como o Grilo Eletrônico, um brinquedo para "tirar onda" com os amigos ao simular o som de um grilo, foram essenciais para ensinar conceitos como osciladores e amplificação, despertando em muitos a paixão pela eletrônica.
O Mestre Beda Marques
Beda Marques foi um dos grandes professores e divulgadores da eletrônica educativa no Brasil. Ele tinha uma habilidade inata de combinar conhecimento técnico e criatividade, sempre priorizando a didática. Em suas colaborações com a Divirta-se com a Eletrônica, Marques desenvolveu uma série de circuitos voltados para iniciantes e entusiastas avançados, cada um com uma explicação detalhada que ia além do simples "como fazer". Seus artigos frequentemente incluíam uma análise de como os componentes interagiam e como ajustar o circuito para efeitos variados.
Além disso, ele sabia que a diversão era parte do aprendizado. O Grilo Eletrônico exemplifica essa filosofia: o projeto não só servia para educar, mas também para entreter. Marques inspirou muitos a seguirem carreira em eletrônica e engenharia, sempre incentivando a curiosidade e a experimentação.
Bartolo Fitipaldi era o editor que acreditava no poder transformador do conhecimento técnico. Ele foi uma das figuras centrais na popularização da eletrônica no Brasil, liderando projetos editoriais que tornaram a eletrônica acessível a jovens de todas as classes sociais. Suas revistas não apenas ensinavam a montar circuitos, mas também a entender os princípios por trás deles. Fitipaldi não via as publicações como um produto de consumo rápido; ele as via como uma missão educativa, com o objetivo de formar futuros engenheiros e inventores.
Fitipaldi e Marques trabalharam juntos para tornar a eletrônica menos intimidadora e mais atraente. Essa parceria resultou em publicações que até hoje são lembradas como verdadeiras “joias” da eletrônica educativa, sendo referência tanto para quem estava começando quanto para entusiastas avançados.
Revisitar o Grilo Eletrônico é não apenas reviver um projeto nostálgico, mas também uma verdadeira homenagem à eletrônica raiz dos anos 80, especialmente ao trabalho do professor Beda Marques e do editor Bartolo Fitipaldi. Com este circuito simples, você poderá montar um oscilador sonoro que simula o som de um grilo, um projeto prático que conquistou gerações e introduziu muitos ao mundo da eletrônica.
O Grilo Eletrônico: um clássico para se redescobrir
O Grilo Eletrônico é mais do que um simples projeto; ele é um símbolo de uma era. O circuito funciona como um oscilador básico, que imita o som de um grilo através de transistor, resistores e capacitores. Utilizando um design de circuito RC (resistor-capacitor), o projeto demonstra a obtenção de resultados excelentes com a simplicidade e a criatividade. Este circuito não apenas gera som, mas também demonstra conceitos fundamentais de amplificação e controle de sinal, essenciais para qualquer iniciante em eletrônica.
Componentes necessários para o Grilo Eletrônico
Para montar este projeto, você vai precisar dos seguintes componentes:
- 1 Transistor NPN BC338
- 1 Alto-falante pequeno (4 ou 8 ohms)
- 1 diodo 1N4148
- 1 Capacitor de poliéster de .1µf
- 1 Capacitor de poliéster de .22µf
- 1 Capacitor cerâmico de 2.2µf
- 1 Resistor de 10 kΩ
- 1 Resistor de 1MΩ
- 1 Pilha pequena (AA) com suporte ou soldada direto no circuito
- Uma barra de terminais weston de 4 ilhóses para componentes soldados
Componente especial:
- Um transformador "velho", aproveitado de alimentação ou de pequenos circuitos de som. Para facilitar, busque transformadores velhos cujos terminais apresentem entre 200 e 800Ω (meça com um multímetro). Esta medição pode indicar uma bobina com cerca de 800 a 1200 espiras, suficiente para o Grilo Eletrônico. Bêda Marques sugeriu uma carcaça de transformador de válvulas 6V6 ou 6AQ5, porém, assim como as válvulas, este transformador também é algo extremamente raro de encontrar. Então, busque transformadores em velhas fontes de energia de computadores, que se prestam muito bem para o Grilo Eletrônico.
Como desmontar o transformador e aproveitar o enrolamento
Materiais Necessários:
- Chave de fenda fina e resistente
- Alicate de corte e de bico fino
- Lixa fina ou escova de aço (para remover resquícios de cola)
Separação das placas do núcleo
Os transformadores de núcleo de ferro geralmente possuem núcleos em formato de E-I (com placas em forma de “E” e “I” alternadas).Com uma chave de fenda fina, comece a separar cuidadosamente as placas de ferro. Insira a ponta da chave entre as placas e faça uma leve pressão, retirando as placas uma a uma. Tente começar pela extremidade do núcleo, onde as placas geralmente estão mais soltas.
As placas estão intercaladas, então retire uma placa de cada tipo (E e I) sucessivamente. Isso mantém a estrutura estável enquanto você trabalha e facilita o processo. Continue retirando até que todas as placas estejam livres. Esse processo exporá o enrolamento primário e o secundário.
Após a remoção das placas de ferro, observe a carcaça plástica que contém o enrolamento. Os transformadores para válvulas geralmente têm um fio fino no primário e mais grosso no secundário. Usando o alicate de corte, corte o fio do secundário com cuidado para não danificar o enrolamento do primário.
O primário (com o fio mais fino) deve permanecer intacto. Se a bobina, no corpo do transformador, estiver coberto com um revestimento plástico, deixe-o, pois isso ajuda a preservar a integridade da bobina. Use lixa ou escova para limpar quaisquer resíduos de cola ou ferrugem, deixando a carcaça e o enrolamento primário prontos para o uso.
Certifique-se de que o fio primário esteja livre de cortes e que ambas as pontas estejam acessíveis. Se necessário, desencape as extremidades do fio para que possam ser soldadas ao circuito oscilador do Grilo Eletrônico. Como o fio é extremamente fino, use a lixa fina, passando cuidadosamente nas pontas do fio, liberando a fina capa de resina presente no fio cobreado do transformador.
Com esse processo, o transformador está desmontado, e o primário pode ser usado diretamente no circuito do Grilo Eletrônico. Este procedimento simples aproveita um transformador antigo de forma criativa, mantendo o espírito de experimentação e reutilização dos recursos eletrônicos.
Ajustes e testes
Não há ajustes a serem realizados. Assim que terminar a montagem e conectar a pilha, o grilo já deve começar a soltar seu "cri-cri", bem baixinho e ritimado. No entanto, com o circuito montado, você pode testar diferentes valores de resistores e capacitores para obter variações no som.
O uso do Grilo Eletrônico
O Grilo Eletrônico carrega consigo não apenas uma construção técnica simples, mas também uma aplicação que evoca o espírito lúdico e a criatividade dos anos 1980. Concebido para ser uma pequena peça sonora de humor e travessura, o brinquedo ganha vida por meio de uma sugestão espirituosa de Beda Marques: colocá-lo discretamente em um ambiente de dormir ou quarto de um amigo, onde o dispositivo passa despercebido durante o dia devido ao som ambiente.
Ao cair da noite, com o silêncio que naturalmente toma conta do ambiente, o "cri-cri" característico emitido pelo Grilo Eletrônico começa a se destacar, ganhando uma presença quase enigmática. A frequência do som imita o sutil e persistente canto de um grilo, aquele "cri-cri" que, em silêncio absoluto, se torna difícil de ignorar e acaba capturando a atenção do ouvinte. Assim, o som do brinquedo, que durante o dia se mistura ao ruído de fundo, passa a ser uma fonte de leve incômodo e surpresa para quem tenta dormir.
Essa sugestão de uso é, ao mesmo tempo, uma brincadeira amistosa e uma demonstração de como a eletrônica, mesmo em sua forma mais básica, pode ser usada para criar efeitos surpreendentes. A intenção é provocar risos e uma divertida sensação de surpresa ao amigo, sem prejuízo ou dano. O "Grilo Eletrônico", portanto, vai além do papel de simples projeto de montagem; ele é uma ferramenta de interação, um acessório de uma pegadinha inofensiva que ativa o senso de humor e a imaginação.
Esse uso lúdico demonstra o quanto Beda Marques e sua abordagem ao ensino de eletrônica promoviam um aprendizado prazeroso, estimulando jovens e iniciantes a desenvolverem não apenas suas habilidades manuais e de raciocínio, mas também a explorarem a versatilidade dos circuitos de forma criativa. A travessura sugerida é um reflexo dessa era de aprendizado experimental e prático, onde montar e usar eletrônicos significava também diversão e engenhosidade.
Referências Bibliográficas
- Fitipaldi, Bartolo. Divirta-se com a Eletrônica. São Paulo: [Editora], 1980.
- Marques, Beda. "Grilo Eletrônico: Instruções e Montagem." Divirta-se com a Eletrônica, Vol. 13, São Paulo: [Editora], 1982.
- Horowitz, Paul; Hill, Winfield. The Art of Electronics. Cambridge University Press, 1980.
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