Dismac    

A série de videogames Dismac, lançados no Brasil em meados dos anos 1980, faz parte de uma era única da história dos videogames no país, marcada pela reserva de mercado. A Dismac entrou na era dos videogames com o console VJ9000, tornando-se um dos muitos "clones" de Atari 2600, que dominava o mercado internacional. Este período foi de vital importância para a indústria tecnológica nacional, já que as limitações impostas pelas políticas governamentais incentivaram a produção local de eletrônicos.

A Dismac, conhecida como uma das pioneiras no desenvolvimento de computadores e videogames no Brasil, teve um papel significativo na era da reserva de mercado, quando o Brasil enfrentava restrições severas à importação de eletrônicos. Fundada no início dos anos 1970, a Dismac surgiu como uma fabricante de calculadoras eletrônicas e equipamentos de escritório, mas posteriormente expandiu suas atividades para computadores pessoais e videogames, conquistando destaque no cenário tecnológico brasileiro.

Dismac, design e funcionalidades

   
    José Goldemberg
     José Goldemberg
A história da Dismac se entrelaça com a de várias figuras da tecnologia no Brasil e no mundo. Um dos personagens importantes no contexto tecnológico brasileiro daquela época foi José Goldemberg, um físico e político que, como ministro da Educação, Ciência e Tecnologia do Brasil (1990-1991), influenciou políticas públicas para ciência e tecnologia. Embora não diretamente ligado ao desenvolvimento dos videogames na década de 1980, ele foi um dos responsáveis por decisões que ajudaram a moldar o ambiente tecnológico nacional, incluindo o fim da reserva de mercado no início dos anos 90.

 

A Dismac nasceu em um momento em que o mercado brasileiro estava sedento por produtos eletrônicos e soluções tecnológicas. Seu primeiro grande sucesso foi com a fabricação de calculadoras, que, na época, eram ferramentas indispensáveis para escritórios e indústrias. As calculadoras Dismac eram conhecidas pela confiabilidade e inovação técnica, o que estabeleceu a marca como uma referência no mercado.

Com o avanço das necessidades tecnológicas no Brasil, a Dismac logo percebeu o potencial do mercado de computadores pessoais. A empresa então diversificou sua linha de produtos e passou a produzir computadores para o público doméstico e empresarial, competindo com grandes nomes internacionais que tentavam driblar as restrições de importação. Um de seus primeiros computadores pessoais foi o Dismac 300, um dos precursores na introdução da computação acessível ao público brasileiro. Durante essa fase, a Dismac se destacou pela fabricação de hardware nacional, em um período dominado por clones de sistemas estrangeiros, como os da Apple e IBM.

Na década de 1980, com o crescimento exponencial da popularidade dos videogames, a Dismac também decidiu explorar este nicho. O mercado de jogos eletrônicos no Brasil, impulsionado pela falta de consoles estrangeiros devido às políticas de reserva de mercado, abriu uma oportunidade de ouro para empresas nacionais. A Dismac lançou os consoles da série VJ, abrangendo o VJ-8900, VJ-9000 e VJ-9100. Esses consoles se destacavam por oferecerem uma experiência similar aos populares Atari, mas com uma produção local e preços mais acessíveis.

A Dismac firmou parcerias com outras empresas tecnológicas brasileiras para desenvolver tanto hardware quanto software de qualidade. Sua linha de videogames, embora rudimentar em comparação aos padrões globais, permitiu a muitos brasileiros acesso ao entretenimento eletrônico. Além disso, a empresa produzia computadores voltados para o mercado empresarial, contribuindo para o desenvolvimento do setor de tecnologia da informação no Brasil.

No final da década de 1980, com a gradual abertura do mercado brasileiro para empresas estrangeiras, a Dismac enfrentou forte concorrência de gigantes como IBM e Apple. A incapacidade de competir com tecnologias mais avançadas e de suportar o custo de produção em massa fez com que a empresa perdesse força. Entretanto, seu legado permanece significativo, especialmente por ter democratizado o acesso à tecnologia em um período de grande dificuldade econômica e restrições políticas.

Hoje, a história da Dismac é lembrada como um símbolo de inovação e resiliência durante a era de reserva de mercado, quando empresas brasileiras foram obrigadas a desenvolver soluções locais para suprir a demanda crescente por tecnologia.

Os videogames Dismac são caracterizados por um design robusto e simplificado, muito parecido com o Atari 2600, porém com diferenças sutis. Sua carcaça preta, controles e a estrutura do console o tornavam um dispositivo singular, embora fosse bastante evidente que se tratava de uma derivação direta do console norte-americano. Uma de suas peculiaridades era a interface dos controles, que apresentava um design levemente alterado em relação aos originais do Atari.

Considerando-se os jogos produzidos pela própria Dismac, a biblioteca era limitada. No entanto, pela compatibilidade direta com o Atari 2600, jogos de quaisquer fabricantes da época funcionavam normalmente no videogame. Isso não era incomum, dada a falta de licenciamento oficial de várias dessas empresas durante o período da reserva de mercado. Por conta disso, os consoles "clones", como os Dismac, ofereciam uma alternativa acessível ao público brasileiro, que não tinha acesso fácil aos videogames estrangeiros.

Contexto histórico e reserva de mercado

Dismac VJ9000    

O lançamento do Dismac VJ9000 coincide com uma era de grande desenvolvimento tecnológico no Brasil, influenciada pela política de reserva de mercado estabelecida pelo governo brasileiro. Essa política, que vigorou durante a década de 1980, restringia a importação de produtos de informática e incentivava a produção local, permitindo o florescimento de empresas como a Dismac. Embora essa iniciativa tenha favorecido a criação de um setor tecnológico nacional, ela também limitou o acesso a produtos originais e licenciados, como os consoles e jogos de grandes marcas estrangeiras.

O Dismac VJ9000 de 1985 vinha com dois joysticks com opcional de manche, um par de controles Paddles e com fonte interna, ligado diretamente à tomada. Um ano depos do lançamento do Dismac VJ9000, a empresa lança o Dismac VJ8900, na prática o mesmo console com algumas atualizações eletrônicas para facilitar a produção, porém já sem os controles Paddles e com fonte externa. No ano seguinte, 1986, a Dismac lançaria seu último modelo, VJ9100, que retornaria os acessórios do modelo VJ9000 com uma carcaça levemente diferenciada.

Dismac VJ8900 Activision

dismac vj 8900 activision    

Seguindo-se ao lançamento do VJ8900, a Dismac embutiu uma "pérola" no mercado de videogames nacionais, lançando o Dismac VJ8900 Activision.

Com o nome Activision vinculado ao console, pode-se entender uma parceria entre a Dismac e a Activision, uma das maiores desenvolvedoras de jogos eletrônicos nos EUA. No entanto, a Activision não tinha uma parceria oficial com a Dismac para a fabricação de consoles. Mesmo assim, o nome foi utilizado de forma estratégica para atrair consumidores brasileiros, já que a marca Activision era associada a grandes títulos da época, como Pitfall! e River Raid, jogos que marcaram a história dos videogames.

A série Dismac Activision foi desenvolvida com tecnologia nacional, adaptando-se ao hardware disponível no Brasil. Os jogos indicados nesta série geralmente ofereciam múltiplos jogos em um único cartucho, uma prática comum entre as fabricantes brasileiras de videogames durante a década de 1980, visando maximizar o valor dos produtos para os consumidores. No entanto, como o nome sugere, todos os jogos eram de fabricação Activision. A Dismac conseguiu, com isso, manter uma certa relevância no mercado até o final da década de 1980, quando a abertura de mercado permitiu a entrada de empresas estrangeiras, o que acabou diminuindo a competitividade de empresas como a Dismac.

Embora hoje a série Dismac Activision seja lembrada principalmente pelos colecionadores de videogames, ela faz parte de um capítulo importante da história dos jogos eletrônicos no Brasil, contribuindo para a difusão do entretenimento eletrônico no país.

Curiosidades e Raridade

Estima-se que cerca de 10.000 unidades dos videogames Dismac foram produzidas, o que o torna um console raro nos dias atuais. Poucos colecionadores possuem um exemplar em suas coleções, e ainda menos o mantêm em pleno funcionamento. O mercado brasileiro de colecionadores valoriza esses dispositivos. No entanto, encontrar um Dismac em bom estado pode ser uma tarefa desafiadora.

Além disso, ele é um exemplo claro do impacto das políticas de reserva de mercado na história dos videogames no Brasil, representando tanto as limitações quanto a criatividade dos engenheiros e desenvolvedores locais durante aquela época.

Embora o Dismac tenha sido eclipsado pelos gigantes da indústria, com o ingresso direto do Atari 2600 por meio da Polyvox, ele continua sendo uma peça fundamental na história dos videogames no Brasil. Seu design, suas origens e o contexto histórico em que foi lançado o tornam um artefato raro e um testemunho da engenhosidade da indústria tecnológica brasileira durante a reserva de mercado.

VJ9000   VJ8900   VJ8900 Activision   VJ9100
Dismac VJ9000
1984
  Dismac VJ8900
1985
 

Dismac VJ8900 Activision
1985

  Dismac VJ9100
1986

 


Referências

  1. Kent, Steven L. The Ultimate History of Video Games: from Pong to Pokémon and beyond... the story behind the craze that touched our lives and changed the world. New York: Crown Publishing, 2001.
  2. Herman, Leonard. Phoenix: The Fall & Rise of Videogames. Springfield: Rolenta Press, 2001.
  3. Montfort, Nick; Bogost, Ian. Racing the Beam: The Atari Video Computer System. Cambridge: MIT Press, 2009.
  4. BAGNALL, Brian. Commodore: a Company on the Edge. Variant Press, 2010.
  5. COHEN, Scott. Zap! The Rise and Fall of Atari. New York: McGraw-Hill, 1984.
  6. GOLDEMBERG, José. The role of technology in the industrialization of developing countries. International Journal of Technology Management, 1992
  7. Consolevariations: Dismac Videogames
  8. AtariAge Forum: Dismac Console