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Eu estou há muitos dias pensando se escreveria ou não este artigo de opinião. O assunto é extremamente espinhoso, e por isso estive extremamente reticente se valeria a pena escrevê-lo, até considerar que vale a pena mostrar o quão difícil é a mineração de antiguidades para um museu.

Dentre as diversas formas de busca de peças para o museu, uma das mais comuns é, como o esperado, comprar de pessoas que não usam mais os antigos computadores e videogames. O mais comum, até posso dizer que tem um componente de certo grau de tristeza, são aparelhos que fizeram a história junto de seus donos que, infelizmente, partem deste mundo e deixam suas lembranças com a família. Estas peças são aquelas muito especiais, possuem história. História e lembranças devem ser preservadas, como esta recente sobre o TK85 do Engenheiro Flávio Kiehl ou sobre meu primeiro computador.

Ainda que traga saudades aos familiares e muito orgulho de poder contar essas histórias, nem sempre a mineração de clássicos é uma atividade prazeirosa, sempre existem pessoas que conseguem atrair aquela núvem de malefícios sobre sua cabeça.

Mineração de aparelhos eletrônicos antigos não é uma atividade fácil, as pessoas que têm os aparelhos muitas vezes não possuem noções de valores, mesmo porque não existem, de fato, referências de valores que possam ser usadas, enquanto existem outras pessoas não querem vender, o que eu respeito. O tratamento e abordagem das pessoas sempre deve ser cuidadosa, muitas vezes a pessoa, por não ter noção do valor, pode pedir um valor táo baixo que até mesmo nós buscamos muita informação para entender este preço baixo; em outras situações, esmagadoramente mais comuns, as pessoas pedem valores exorbitantes em uma percepção equivocada de que "o que é antigo é raro então deve ser caro". Existe, de fato, aparelhos cuja raridade tornam o preço bem alto, porém esta raridade tem que ser quase absoluta: um TK85 lacrado na caixa deve valer algumas dezenas de milhares de reais, porque simpresmente é a raridade das raridades, eu mesmo não creio que existam TK85 lacrados na caixa ainda hoje. Por outro lado, um TK85 aberto, usado e cheio de história para contar tem seu valor sentimental, porém obviamente não terá um valor maior do que algumas poucas dezenas de reais.

    C64
    Commodore 64

Tratar com o vendedor de determinado aparelho é uma situação muitas vezes estressante: é possível perceber, na maioria das vezes, que o vendedor tem certo comportamento pouco sociável somente pelo valor que está pedindo por seu item. Recentemente tive essa percepção quando encontrei um item que seria interressante para o Museu: um computador Commodore 64 anunciado no Mercadolivre.

O Computador Commodore 64, fabricado pela Commodore International entre os anos de 1982 e 1994, foi um dos computadores pessoais mais vendidos nos EUA, e existem milhares deles no mercado norte-americano. Alguns desses aparelhos, pela quantidade, acabou desaquando por aqui, em terras tupiniquins, transportados por seus donos em mudanças ou como presente.

O Commodore 64 não é, de forma alguma, um computador raro, somente é mais difícil encontrá-lo no Brasil. Porém nada impede, hoje em dia, de qualquer brasileiro importar esses aparelhos direto dos EUA, pelo eBay, por exemplo, ou mesmo visitando um antiquário de informática durante uma "turistada" na terra do Tio Sam, onde esses computadores são encontrados aos lotes por valores inferiores a 10 dólares, ou até mesmo muitas vezes de graça para liberar espaço.

Esta história começa quando, recentemente, em agosto de 2022, encontrei um Commodore 64 para vender no Mercado Livre. O proprietário, com um pseudônimo no mínimo estranho, estava pedindo absurdos R$1.875, equivalente a 365 dólares, mais caro do que muitos notebooks totalmente funcionais e úteis.

Em casos assim sempre pesquiso o vendedor, muitas vezes é uma loja de antiguidades, tem custos e, por isso, o valor alto. Outras vezes é só uma pessoa que está precisando de dinheiro e busca se desfazer de um aparelho que ele gosta mas infelizmente não tem mais uso, mas o mais comum é pessoa que simplesmente não tem noção do preço mesmo, pensa que determinado produto é caro porque é antigo, e é justamente este o caso do vendedor em questão. 

Nestes casos, quando a pessoa não tem conhecimento do preço, eu sempre busco abrir um diálogo, contextualizando o motivo de estar procurando essas peças e perguntando se o valor é passível de negociação. Muitas vezes a pessoa é adepta de coleção também, e acabamos por nos conhecer e até fazer uma amizade. Outras vezes a pessoa recusa e diz que não tem condições de reduzir o preço, e tudo bem, o produto é dele e ele pede o valor que lhe convier. Porém, nesta vez deste Commodore 64, o vendedor, de pseudônimo "Barbapapax", teve uma atitude amargamente diferente: com um mal humor incomum e uma falta de educação de fazer inveja a qualquer psicopata sem noção, respondeu de forma totalmente inesperada e estranha. A conversa foi exatamente esta abaixo:

Pergunta 1
Museu OldBits

    Olá amigo. Participo de um grupo de pessoas que está tentando abrir uma seção de informática no Museu do Telefone. Não temos verba, só ajuda de amigos e pessoas voluntárias. Você aceitaria uma contra oferta para nos ajudar a colocar seu computador no museu? Conversa barbapapax 1
Resposta 1
Barbapapax
    Você acha que esse seu papinho de museu de tecnologia como várias pessoas fazem o Facebook convence? Vaza. Faz o museu do teu r#%&. (palavra escondida aqui, vocês não merecem ler palavrões)
Pergunda 2
Museu OldBits
   
Museu 8 bits, fácil de consultar como museu 8 bits e como oldbits. Nós estamos tentando fazer um trabalho digno com nada de verba governamental, só com pessoas dignas e BEM EDUCADAS, que gostam do tema. Parece que esse não é o seu caso.
Resposta 2
Barbapapax
    Arruma um emprego e paga ao invés de mendigar com esse papinho. ·
Pergunta 3
Museu OldBits
   
Perguntei se você aceita uma CONTRA OFERTA. Isso não é mendigar, é negociar. Mesmo assim foi ótimo, obrigado por oferecer mais um tema para artigo no site do museu. 

 Link: https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-2770274256-commodore-64-c64-ntsc-apple-microdigital-msx-amiga-_JM

Pois é, amigos. Nem sempre as pessoas estão dispostas a conversar. Porém ataques de pelanca como esses eu nunca vi, principalmente quando se tem um possível comprador perguntando algo sobre o produto ou o preço. O brasileiro tem por cultura a negociação dos valores cobrados, é extremamente raro um brasileiro se irritar com um comprador que está só perguntando se é possível negociar o preço cobrado.

Conversa barbapapax 3   Conversa barbapapax 4    
         

Percebam que eu até tentei relevar, explicar melhor, mas o indivíduo é mesmo um sem noção e sem educação. Me senti mal por um tempo, tentando entender o que aconteceu, pois não é costume receber respostas como essas. Reli várias vezes as perguntas, buscando outros ângulos de possíveis entendimentos, e por isso houve certa relutância minha em escrever este artigo. Então finalmente concluí que não tem nada de errado nas perguntas, o vendedor é mesmo um mal educado.

Assim, caros amigos, nem sempre a pessoa que está do outro lado quer ouvir (ou ler) alguma coisa, ou está disposta a conversar sobre o assunto que você gosta, ou mesmo está disposta a conversar sobre qualquer coisa. Essas demonstrações de incivilidade estão se tornando cada vez mais comuns, percebam que até em um site de compra e venda o vendedor faz questão deste tipo de atitude, com perguntas e respostas públicas que qualquer pessoa pode ler e tomar conclusões.

Bem, não foi dessa vez que o Museu conseguiu um Commodore 64 para contarmos a história. Quanto ao anúncio do tal "barbapapax", foi finalizado sem venda. Por motivos óbvios. 

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