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TK2000 logo    

Em 1983, com a lei de reserva de mercado totalmente vigente e 1 ano antes da lei de reserva específica para a Informática, as empresas brasileiras já começavam a solicitar mais capacidade de processamento de informática para aplicações de escritório e engenharia. Assim, mesmo que de forma extremamente tímida, começavam a surgir no Brasil os computadores "profissionais", que não eram fabricados no Brasil então demandavam de autorizações e justificativas especiais para importação direta, a preços altamente proibitivos para empresas de pequeno e médio porte. Foi nesta época, com quase 5 anos de atraso, que começaram a surgir no Brasil (a preços estratosféricos, quase proibidos ao cidadão trabalhador) os primeiros IBM-PCs e Apple-II, para suprir a demanda de trabalhos tanto nos escritórios como em áreas de engenharia e produção.

Visando este mercado já crescente, a Microdigital apresentou ao público, na Feira de Informática de 2 de março de 1983, o TK2000. Causando furor entre os entusiastas, o TK-2000 foi diferente dos outros computadores da Microdigital: embutido em um gabinete com teclado profissional, capacidade de gráficos em alta resolução (280 x 192 pixels), capacidade de processamento condizente com aplicações de escritório, possibilidade de emulação de som, o TK2000 também já trazia a possibilidade de uso de drive de disquetes (de tamanho de 5¼", comum na época), tornando-o melhor para o uso profissional, mantendo também a capacidade de uso de gravador cassete para reduzir o custo de venda e atrair também o consumidor caseiro.

Ainda que na mesma Feira de Informática de 1983 algumas empresas nacionais já estivessem lançando seus computadores compatíveis com o IBM-PC, como o EGO da Softec, o preço altamente proibitivo fez com que o mercado se voltasse para o TK2000 da Microdigital. Ainda que compatível, em boa parte, com softwares desenvolvidos para o Apple-II, o TK2000 não deve ser considerado um clone do computador da Apple: a Microdigital utilizou, de fato, uma plataforma "desenvolvida" pela empresa Multitech, Taiwan: o computador Microprofessor II, elaborado para ser compatível, porém não cópia, do Apple-II, por isso a compatibilidade. A Multitech, posteriormente, se tornaria a Acer, conhecida fabricante de aparelhos eletrônicos.

O ano de 1983 foi marcante para a empresa paulistana Microdigital Informática LTDA. Considerada um caso de sucesso, a empresa estava oficialmente imersa na importante gama de grandes empresas brasileiras de informática. Mesmo assim, seu portifólio ainda não poderia ser considerado dos mais notáveis no setor: o sucesso de vendas da Microdigital, o TK85, era de fato um computador com muita limitação pela simplicidade, mesmo considerando a época de lançamento.Além do TK85, a Microdigital disponibilizava aos consumidores de informática somente outro pequeno computador: o TK82-C, que somente contava com a limitadíssima capacidade de memória de 2kB (!). Era quase uma simples calculadora programável.

Ambos os computadores, TK82-C e TK85 estavam em um nicho de mercado que abarcava mais os entusiastas, jovens que queriam um videogame turbinado e os programadores da linha de computadores Sinclair, das quais tanto o TK82-C quanto o TK85 faziam parte. No entanto, faltava ainda entrar "de cabeça" no mercado da computação profissional, disponibilizando mais capacidade de processamento e memória para aplicações de escritório.

A Microdigital fabricou o TK2000 entre 1983 e 1987. Neste período, o computador teve quatro "versões": TK2000 (original), TK2000-II 64kB (uma versão de marketing, era o mesmo TK2000 da versão anterior), e duas versões de TK2000-II 128kB, uma com placa de expansão de memória interna ao gabinete e outra, a finalística, que contou com uma placa única já com memória de 128kB nativa.

 

TK2000 1271 1O TK2000 de casamento

O primeiro computador deste Museu é uma peça que tem lugar de destaque. Pouco antes de 1990, o Jaldomir Sênior, pai deste que vos escreve, trouxe para casa um TK2000 original, de 64kB. O equipamento chegou "crú", sem caixa nem acessórios, somente com manuais e a fonte de energia.

Este foi o computador que me inseriu, de fato, no mundo da informática: na época, com 15 anos, o máximo de informática que eu conhecia era jogar Enduro, River Raid e Pitfal no Atari 2600 (que também faz parte deste museu). Aprender sobre as "entranhas" da computação já era uma vontade antiga, porém cara e distante até a chegada deste TK2000.

Trabalhando sério

Após alguns meses de brincadeiras, encontramos uma utilidade prática e efetiva para o poderoso TK2000: confeccionar aberturas e finalizações de fitas de vídeo de eventos.

Um parente próximo, que comprou uma filmadora JVC, começou a fazer filmagens de casamentos, eventos e aniversários para os amigos, até receber uma oferta para filmar eventos. Naquela época, início dos anos 1990, filmagens eram extremamente caras, e as aberturas destas das filmagens, quando existiam, eram extremamente amadoras, normalmente o cameraman filmava várias folhas de papel sulfite batido à máquina de escrever. Acredite: era algo bem amador mesmo.

Quando o cameraman tinha algum dinheiro, adquiria um caríssimo equipamento chamado "gerador de caracteres", que não tinha nenhum tipo de desenho, não tinha nada de escolhas de tipografias e tampouco mudava as cores dos caracteres na tela. No máximo algum efeito dos caracteres andando, aos pulos, de linha em linha, pela tela da TV. Algo também muito amador.

TK2000 aberturaDaí veio a idéia de eu programar o TK2000 para apresentar caracteres e gráficos na tela, gravar no videocassete inserindo som externo (lembro que a música que eu mais usava era "Look for a Star" na versão instrumental de Billy Vaughn. Resultado? As aberturas que o bom TK2000 se tornaram um mania na época, todos os colegas que faziam filmagens queriam que eu colocasse a abertura, personalizada com nomes e desenhos geométricos nas fitas de vídeo de reportagens, gráficos como este exemplo na figura em movimento ao lado. Hoje em dia os desenhos podem parecer simples e desinteressantes, mas acredite: no início dos anos 1990, ter um desenho em movimento desses, juntamente com o nome dos noivos, dos padrinhos e outras informações passando na tela de sua fita de casamento era "um luxo". 😁

Incentivo à profissão

Este TK2000 me fez mergulhar de cabeça na eletrônica: técnico projetista formado, entrei na já extinta On-Line Informática LTDA, com sede no Tatuapé, cidade de São Paulo, empresa que até o final dos anos 1990 era a única no Brasil a prestar manutenção autorizada nos computadores Apple Macintosh. Foi nesta época que ganhei os adesivos da maçã colorida da Apple, que obviamente foram parar no invólucro do meu TK2000, como mostrado na foto. Esses adesivos fazem parte da história deste TK2000, por isso nunca os retirei.

O vulcão e o diploma

Este TK2000 também foi o vencedor da Feira de Ciências do Liceu "Camilo Castelo Branco" de 1994, quando o utilizei para "monitorar" a atividade de uma maquete gigante de vulcão, com funcionalidades reais, até fluxo piroclástico (de gelo seco) e lava vulcânica (de tinta vermelha de caneta BIC). Em uma tela, o TK2000 mostrava a probabilidade de erupção vulcânica, enquanto ele próprio controlava um conjunto de eletrobombas por meio de uma placa de expansão especialmente desenvolvida para causar uma erupção a cada 2 minutos. Foi a propaganda que atraiu centenas de visitantes ao Liceu durante toda a semana da Feira de Ciências, e, obviamente, me rendendo uma nota 10 e garantindo meu diploma de Técnico em Projetos Eletrônicos.

Diferentemente dos TK85, a Microdigital teve um cuidado especial com os adesivos de número de série dos TK2000. Assim, é possível rastrear, até hoje, a maioria dos TK2000. Este TK2000 "de casamento" não é exceção: o número de série está preservado, seu número é 1271.

Este TK2000 nunca foi modificado, sequer foi necessário trocar componentes, está funcionando perfeitamente no Museu OldBits até os dias atuais.

Este computador é o que me remete á minha juventude, noites de programação e de novidades, além de trazer para o presente as lembranças de meu pai, que participava com muito interesse no desenvolvimento das novas idéias e das descobertas da informática raíz!

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Primeiro TK2000 do Museu OldBits

Vídeo:

  • Conexão externa para RF (canal 3), padrão PAL-M
  • Conexão externa para monitor composto
  • Modo de texto emulado 40 X 24 caracteres
  • Modo de baixa resolução emulada 40 x 47 pontos
  • Modo gráfico com 40 x 40 pontos + 4 linhas de texto
  • Modo alta resolução (nativo) de 280 x 192 pixels
  • Modo alta resolução 280 x 159 pixels + 4 linhas emuladas de texto
  • Modo alta resolução 280 x 192 pixels com emulação de 1 linha de texto
  • Texto com 1 cor (branco)
  • Modo gráfico com até 16 cores

Som:

  • Saída de som composto pela TV
  • Um canal de som emulado em software, com até 4 oitavas de tons e semi-tons, 5 tempos diferentes para cada nota

Teclado:

  • Mecânico, 54 teclas com disposição QWERTY
  • 65 comandos (cada comando é acessável por uma tecla)
  • 46 funções
  • 59 caracteres alfanuméricos
  • 49 caracters gráficos
  • 4 teclas de movimento de cursor
  • 2 teclas de disparo para jogos (FIRE)
  • Tecla de repetição de caracteres

Caracteres:

  • ASCII, matriz de 5X7 pontos, sem minúsculas

Expansão:

  • 1 slot EDGE

Portas de comunicação:

  • Conexão para impressora serial ou paralela CENTRONICS
  • Conector DB-9 para joystick (não compatível com ATARI)
  • Portas de gravação e leitura (EAR e MIC) para gravador cassete com velocidade de 1500 baud rate
  • 2 portas de controle de motor de gravador por software, para uso paralelo de 2 gravadores (um para leitura e outro para escrita)

 

O TK2000 possui um poderoso conjunto de ferramentas na própria ROM, para o uso tanto de programadores iniciantes até programadores avançados, adeptos de código de máquina e assembler.

Compiladores disponíveis na ROM de 16kB

  • Interpretador BASIC
  • Monitor-Disassembler
  • Mini assembler

Características do programa Monitor:

  • Comandos diretos em hexadecimal
  • Capacidade de exame direto de posições da memória
  • Capacidade de escrita diretamente em memória
  • Capacidade de transferir dados em blocos
  • Capacidade de comparar dados em blocos
  • Capacidade de armazenar e carregar blocos de memória diretamente em fita cassete, tanto no formato compatível com Apple-II (APPLESOFT) quanto em formato próprio do TK2000
  • Capacidade aritmética de soma e subtração de valores hexadecimais

Disassembler:

  • Trabalha com blocos de memória em código mnemônico do processador 6502

Mini-Assembler

  • Compila código mnemônico do 6502 em códigos hexadecimais
  • Executa comandos do programa Monitor diretamente dentro do mini-assembler

A Microdigital também disponibilizou alguns periféricos para o TK2000. Dentre os mais comuns, estavam o Microdigital Disk Controller, que era a interface que possibilitava o uso de um drive externo de disquete 5¼" de dupla densidade, com capacidade de 140kB, uma interface de comunicação serial RS232-C e dois modelos de joystick TK-Stick Game Control, nas cores branco e preto. Dado à grande capacidade da porta de expansão do TK2000, muitas empresas desenvolveram suas próprias interfaces de eletrocontroles, principalmente a indústria, de forma a usar o TK2000 e toda sua confiabilidade e capacidade em linhas de produção.

O TK2000 foi o computador-chefe da Microdigital até a chegada de seu "irmão maior", o TK3000, convivendo em fabricação desde 1986, lançamento do TK3000, até 1997, quando a Microdigital encerrou a fabricação do TK2000.

Muitos simplesmente não gostam do TK2000, principalmente por não participar de fato de um padrão, mas eu não compartilho desse sentimento: o TK2000 teve, para mim, grande importância no desenvolvimento pessoal e profissional. Um brinde ao TK2000!